SOL777 - COMO SURGIU A UMBANDA
por Reinaldo Mariano de Brito -
reisol777@yahoo.com.br
"Em fins de 1908, uma família tradicional de Neves, Estado do Rio de Janeiro,
foi surpreendida pôr uma ocorrência que tomou aspecto sobrenatural: o jovem
Zélio Fernandino de Moraes, que fora acometido de estranha paralisia, que os
médicos não conseguiam debelar, certo dia ergueu-se do leito e disse “Amanhã
estarei curado”.
No dia seguinte, levantou-se normalmente e começou a andar, como se nada, antes,
lhe houvesse tolhido os movimentos. Contava apenas dezessete anos e destinava-se
a carreira militar na marinha.
A medicina não soube explicar o que tinha ocorrido. Os tios, que eram padres
católicos, foram colhidos de surpresa e nada disseram sobre a misteriosa
ocorrência.
Um amigo da família sugeriu, então, uma visita à Federação Espírita de Niterói,
presidida por José de Souza, na época. No dia 15 de novembro de 1908, o jovem
Zélio foi convidado a participar de uma sessão e o dirigente dos trabalhos
determinou que ele ocupasse um lugar à mesa.
Tomado por uma força estranha e superior a sua vontade, contrariando as normas
que impediam o afastamento de qualquer dos componentes da mesa, o jovem Zélio
levantou-se e disse : - Aqui está faltando uma flor!, e retirou-se da sala.
Pouco depois, voltou trazendo uma rosa, que depositou no centro da mesa. Essa
atitude insólita causou quase um tumulto. Restabelecida a “corrente”,
manifestaram-se espíritos, que se diziam de pretos escravos e de índios ou
caboclos, em diversos, médiuns. Esses espíritos foram convidados a se retirar
pelo presidente dos trabalhos, advertidos do seu atraso espiritual.
Foi então que o jovem Zélio foi novamente dominado por uma força estranha, que
fez com que ele falasse sem saber o que dizia (De acordo com depoimento do
próprio à revista Seleções de Umbanda, em 1975.).
Zélio ouvia apenas a sua própria voz perguntar o motivo que levava os dirigentes
dos trabalhos a não aceitarem a comunicação desses espíritos e pôr que eram
considerados atrasados, se apenas pela diferença de cor ou de classe social que
revelaram ter tido na sua ultima encarnação. Seguiu-se um diálogo acalorado, e
os responsáveis pela mesa procuraram doutrinar e afastar o espírito
desconhecido, que estaria incorporado em Zélio e desenvolvia um argumentação
segura.
Um dos médiuns videntes perguntou , afinal: - Porque o irmão fala nesses termos,
pretendendo que esta mesa aceite a manifestação de espíritos que pelo grau de
cultura que tiveram, quando encarnados são claramente atrasados? E qual é o seu
nome irmão?
Respondeu Zélio , ainda tomado pela força misteriosa:
- Se julgam atrasados esses espíritos dos pretos e dos índios, devo dizer que
amanhã estarei em casa deste aparelho ( o médium Zélio) para dar início a um
culto em que esses pretos e esses índios poderão dar a sua mensagem e, assim ,
cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou. Será uma religião que
falará aos humildes , simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os
irmãos, encarnados e desencarnados. E , se querem saber o meu nome , que seja
este : “Caboclo das Sete Encruzilhadas”, porque não haverá caminhos fechados
para mim. O vidente interpelou a Entidade dizendo que ele se identificava como
um caboclo mas que via nele restos de trajes sacerdotais. O espírito respondeu
então:
- O que você vê em mim são restos de uma existência anterior. Fui padre e meu
nome era Gabriel Malagrida. Acusado de bruxaria fui sacrificado na fogueira da
Inquisição em Lisboa, no ano de 1761. Mas em minha última existência física,
Deus concedeu-me o privilégio de nascer como caboclo brasileiro.
- Julga o irmão que alguém irá assistir ao seu culto?, perguntou, com ironia, o
médium vidente; ao que o caboclo das sete encruzilhadas respondeu:
- Cada colina de Niterói atuará como porta-voz, anunciando o culto que amanhã
iniciarei! Zélio de Morais contou que no dia seguinte , 16 de novembro , ocorreu
o seguinte:
- Minha família estava apavorada. Eu mesmo não sabia explicar o que se passava
comigo. Surpreendia-me haver dialogado com aqueles austeros senhores de cabeça
branca, em volta de uma mesa onde se praticava para mim um trabalho
desconhecido. Como poderia, aos dezessete anos, organizar um culto? No entanto
eu mesmo falara, sem saber o que dizia e por que dizia. Era uma sensação
estranha: uma força superior que me impelia a fazer e a dizer o que nem sequer
passava pelo meu pensamento.
- E, no dia seguinte em casa de minha família, na Rua Floriano Peixoto, 30, em
Neves, ao se aproximar a hora marcada , 20 horas , já se reuniam os membros da
Federação Espírita , seguramente para comprovar a veracidade dos fatos que foram
declarados na véspera, os parentes mais chegados, amigos, vizinhos e , do lado
de fora, grande número de desconhecidos. Às 20 horas , manifestou-se o Caboclo
das Sete Encruzilhadas. Declarou que se iniciava naquele momento, um novo culto
em que os espíritos de velhos africanos, que haviam servido como escravos e que,
desencarnados, não encontravam campo de ação nos remanescentes das seitas
negras, já deturpadas e dirigidas quase exclusivamente para trabalhos de
feitiçaria , e os índios nativos de nossa terra poderiam trabalhar em benefício
dos seus irmãos encarnados, qualquer que fosse o credo e a condição social. A
prática da caridade , no sentido do amor fraterno, seria a característica
principal desse culto, que teria pôr base o Evangelho de Cristo e, como mestre
supremo Jesus. O Caboclo estabeleceu as normas em que se processaria o culto:
sessões , assim se chamariam os períodos de trabalho espiritual, diárias das 20
ás 22 horas, os participantes estariam uniformizados de branco e o atendimento
seria gratuito. Deu, também, o nome desse movimento religioso que se iniciava;
disse primeiro allabanda (ou um dos presentes assim anotou) mas considerando que
não soava bem a sua vibratória, substituiu-o por Aumbanda, ou seja Umbanda ,
palavra de origem sânscrita que se pode traduzir por “Deus ao nosso lado”, ou “o
lado de Deus”. Muito provavelmente, ficou o nome umbanda , e não Aumbanda,
porque alguém anotou a palavra separadamente (a umbanda). A casa de trabalhos
espirituais, que no momento se fundava, recebeu o nome de Nossa Senhora da
Piedade, porque assim como Maria acolhe o Filho nos braços, também seriam
acolhidos, como filhos, todos os que necessitassem de ajuda ou de conforto.
Ditadas as bases do culto , após responder, em latim e em alemão às perguntas
dos sacerdotes ali presentes, o Caboclo das Sete Encruzilhadas passou á parte
pratica dos trabalhos, curando enfermos, fazendo andar aleijados. Antes do
término da sessão, manifestou-se um preto velho. Pai Antônio, que vinha
completar as curas.
Segundo o jornal Gira de Umbanda (n.º 19 “As Verdadeiras origens da Umbanda do
Brasil”), foi esse guia quem ditou o ponto hoje cantado no Brasil inteiro
“Chegou, chegou, chegou, com Deus , chegou, chegou o Caboclo das Sete
Encruzilhadas”.
Nos dias seguintes, verdadeira romaria se formou na Rua Floriano Peixoto, n.º
30, em Neves. Enfermos , cegos, paralíticos, vinham em busca de cura e ali
encontravam , em nome de Jesus. Médiuns (cuja manifestações haviam sido
consideradas loucuras) deixaram os sanatórios e deram provas de suas qualidades
excepcionais. Estava fundada a umbanda no Brasil. 15 de novembro de serie
posteriormente, dia nacional da umbanda .
Cinco anos mais tarde, manifesta-se o orixá Malé exclusivamente para a cura de
obsedados e o combate aos trabalhos de magia negra (obs. Orixá, na realidade não
incorpora, apenas manda sua vibração à terra, é comum no estado do Rio, trata-se
de um guia espiritual pela denominação do orixá segundo Ivone Mangie Alves
Velho, em seu livro Guerra de Orixá).
Dez anos após a fundação da Tenda Nossa Senhora da Piedade (registrada como
tenda Espírita , porque não era aceito na época, o registro de uma entidade com
especificação de umbanda), o Caboclo das Sete Encruzilhadas declarou que
iniciava a segunda parte de sua missão: a criação de sete templos , que seriam o
núcleo do qual se propagaria a religião da umbanda. Em 1935, estavam fundados os
sete templos idealizados pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas , sendo curiosa a
fundação do sétimo , que receberia o nome de Tenda São Gerônimo (a casa de
Xangô). Faltava um dirigente adequado ao mesmo, quando numa noite de quinta
feira, José Alvares Pessoa, espírita e estudioso de todos os ramos do
espiritualismo, não dando muito crédito ao que lhe relatavam sobre as maravilhas
ocorridas em Neves , resolveu verificar pessoalmente o que se passava.
Logo que assomou à porta da sala em que se reuniam os discípulos do Caboclo das
Sete Encruzilhadas, este interrompeu a palestra e disse :
- Já podemos fundar a Tenda São Jerônimo. O seu dirigente acaba de chegar. O Sr.
Pessoa ficou muito surpreso, pois era desconhecido no ambiente. Não anunciara a
sua visita e viera apenas verificar a veracidade do que lhe narravam . Após
breve diálogo em que o Caboclo das Sete Encruzilhadas demonstrou conhecer a
fundo o visitante, José Alvares Pessoa assumiu a responsabilidade de dirigir o
último dos sete templos que a entidade criava. Dezenas de templos e tendas porém
, seriam criados posteriormente, sob a orientação direta ou indireta do Caboclo
das Sete Encruzilhadas. Em 1939, o Caboclo das Sete Encruzilhadas determinou que
se fundasse uma federação (que posteriormente passou a à denominação de União
Espírita de Umbanda do Brasil, segundo relata Seleções de Umbanda n.º 7 1975) ,
para congregar templos Umbandistas e que deveria seu o núcleo central desse
culto , em que o simples uniforme branco de algodão, dos médiuns estabelecia a
igualdade de classes e a simplicidade do ritual permitia.
Mensagens do Jornal de Umbanda sagrada
Muita proteção e luz a todos!!!
Seja um Bom Médium.
Grande abraço,
"EU SOU O EU SOU"
Namastê
11/11/05
SOL777
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