CONVERSANDO COM EXU por Reinaldo Mariano de Brito - reisol777@yahoo.com.br
Dizem
que Exu é um homem sério, castigador, espírito sem compaixão alguma.
Muitos falam que nem mesmo sentimento essas entidades apresentam. Muitos
temem Exu, relacionando – o com o Diabo ou com algum monstro cavernoso que
a mente humana é capaz de criar. Bem, dia desses, no campo santo de
meu pai Omulu, vi algo inusitado que me fez pensar... Um desses Exus
Caveiras, que apresentam essa forma plasmada como meio de ligação a
falange pertencente, chorava sobre um túmulo. Discretamente, isso devo
dizer, afinal os Caveiras em sua maioria são de natureza recatada e
introspectiva, mas chorava sim.
Engraçado pensar nessa situação,
não é mesmo? Ele chorava pelos erros do passado, chorava por uma pessoa a
qual amava muito, mas não mais perto dele estava. Claro, sabia que ninguém
morria, mas a saudade e o remorso apertavam fundo seu coração. Isso
acontece muito no plano espiritual, onde muitas vezes os laços são
quebrados devido às diferenças vibratórias. Na verdade o laço não se
quebra, apenas afrouxam-se um pouco... Mas, voltando a nossa história,
fiquei a pensar muito sobre aquele tipo de visão. Pensei que ninguém
acreditaria em mim caso eu contasse esse “causo”, afinal, Exu é homem
acima do bem e do mal, exu não tem sentimento, exu não chora...
E
para aqueles então que endeusam “seu” Exu, pensando ser ele um grande
guardião, espírito da mais alta elite espiritual, espírito corajoso, sem
medos, violento guerreiro das trevas. Exu acaba assumindo na Umbanda um
arquétipo, ou mito, tão supra–humano, que muitas vezes ele deixa de ser
apenas o mais humano das linhas de Umbanda. Arquétipo esse, diga–se de
passagem, muito diferente do Orixá Exu, arquétipo base para a formação do
que chamamos de Linha de Esquerda dentro do ritual de Umbanda. É, eu
acho que todo Exu chora. Assim como eu e você também. Inclusive, todo
mundo chora, pois todos temos dores, remorsos e tristezas. Isso é humano.
Mas, voltando ao campo santo... Logo vi um Exu, vestindo uma longa capa
preta, se aproximar do triste amigo Caveira. O que conversaram não sei,
pois não ouvi, e muito menos dotado da faculdade de ler os pensamentos
deles eu estava. Mas uma coisa é certa: Os dois saíram a gargalhar muito!
“Engraçado, como é que pode? Tava chorando até agora, e de repente
sai rindo de uma hora pra outra?” _ pensei contrariado. Fiquei alguns dias
refletindo sobre isso, e cheguei a uma conclusão. A principal
característica de um Exu é o seu bom – humor. Afinal, mesmo em situações
muito complicadas, eles sempre têm uma gargalhada boa para dar. Na pior
situação, mesmo que de forma sarcástica, eles se divertem. Ele pode
escrever certo por linhas tortas, errado por linhas retas, errado em
linhas tortas ou sei lá mais o que, mas uma coisa é certa, vai escrever
gargalhando. Admiro esse aspecto de Exu. Tem gente que de tanto
trabalhar com Exu torna – se sério, “faz cara de mau”, vive reclamando da
vida além de tornar – se um grande julgador. A verdade é que nunca vi
Exu reclamar de nada, nem julgar a ninguém. Pelo contrário, o que vejo é
que Exu nos ensina a não reclamar da vida, pois tem gente que passa por
coisa muito pior e o faz com honra e... Bom – humor!
Vejo também
que Exu não julga ninguém, afinal, quem é ele, ou melhor, quem somos nós
para julgarmos alguém? Exu ensina que o que nós muito condenamos, assim o
fazemos porque isso incomoda. E saber por quê? Porque tudo que condenamos
está em nós antes de estar nos outros. Por isso Exu não gosta daquele
que é um falso pregador, aquele que vive dizendo como os outros devem
agir, vive dizendo o que é certo, vive alertando os outros contra a
vaidade, vive julgando, mas no dia – dia pouco aplica as regras que impõe
para os outros. O mundo está cheio deles. E Exu sorri quando encontra um
desses. Mais para frente eles serão engolidos por si mesmos. Pela própria
sombra. Mas Exu não ri porque fica feliz com isso, muito pelo contrário,
ele até sente por aquela pessoa. Mas já que não dá pra fazer outra coisa,
o melhor é sorrir mesmo, não é? O certo é que a linha de Exu nos
coloca frente a frente com o inimigo! Mas aqui não estamos falando de
nenhum “kiumba”, mas sim de nós mesmos. O que eu já vi de médium perdendo
a compostura quando “incorporado” com Exu não é brincadeira. Muitos
colocam suas angústias pra fora, outros seus medos e inseguranças, muitos
seus complexos de inferioridade. Tudo isso Exu permite, para que a pessoa
perceba o quanto ela é complicada e enrolada naquele sentido da vida.
Mas dizem que o pior cego é aquele que não quer ver, e o que tem de
gente que não quer enxergar os próprios defeitos... E não sobra opção a
Exu, a não ser sorrir e sorrir mesmo quando nós nos damos mal.
Mas, ainda falando dos múltiplos aspectos contraditórios de Exu,
pois ele é a contradição em pessoa, devo ainda relatar mais uma
experiência contraditória em relação a sua natureza. Dia desses, depois de
um “pesado trabalho de esquerda”, fiquei refletindo sobre algumas coisas.
E sempre que assim eu faço, algo estranho acontece. Nesse trabalho,
muitos kiumbas, espíritos assediadores, obsessores, eguns, ou sei lá o
nome que você queiram dar, foram recolhidos e encaminhados pelas falanges
de Exu que lá estavam presentes. Sabe como é, na Umbanda, a gente não
pega um livro pesado e começa a doutrinar os espíritos “desregrados da
seara bendita”. A gente entra com a energia, com a mediunidade e com os
sentimentos bacanas, deixando o encaminhamento e “doutrinação” desses
amigos mais revoltados nas mãos dos guias espirituais. Esse trabalho foi
complicado. Muitos, na expressão popular, estavam “demandando o grupo”, ou
seja, estavam perseguindo nosso grupo de trabalho e assistência
espiritual, pois tinham objetivos e finalidades diversas e opostas.
Ninguém tinha arriado um ebó na encruzilhada contra a gente, eram atuações
vindas de inteligências opostas ao trabalho proposto e atraídas pelas
“brechas vibratórias” de nossos próprios sentimentos e pensamentos. Mas
que na Umbanda ainda acha – se que tudo que acontece de errado é culpa de
algum ebó na encruzilhada, isso é verdade...
Continua....
Por Fernando Sepe Publicado no Blog
Orunananda, dia 07/02/2006
http://blog.orunananda.zip.net/arch2006-02-01_2006-02-28.html
Muita proteção e luz a todos!!!
Grande abraço, EU SOU
O EU SOU Namastê 11/05/09 SOL777
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