O COMPANHEIRO DOS ANJOS
por Reinaldo Mariano de Brito - reisol777@yahoo.com.br
"Quando Benjamim Paixão atingiu as bodas de prata com a filosofia consoladora dos Espíritos, experimentos indizível amargura.
Vinte e cinco anos de casamento com o Espiritismo Cristão e ainda se reconhecia impossibilitado de participar-lhe os serviços.
Em seu modo de ver, fora defrontado, em toda a parte, pela incompreensão, pelo desengano e pela discórdia.
Jamais pudera firmar-se em agrupamento algum.
Em razão disso, nessa noite, ao invés de procurar o clube, seguindo o velho hábito, dirigiu-se a certa instituição, em que pontificavam a boa-vontade e a dedicação de Melásio, venerado guia espiritual.
Depois da prece de abertura dos trabalhos e quando o abnegado amigo invisível passou a comandar a assembléia, por intermédio de uma senhora, Benjamim exclamou em voz súplice:
- Melásio, a data de hoje assinala o vigésimo quinto aniversário do meu ingresso na Doutrina. Prestimoso irmão, oriente-me, ensine-me!
Onde encontrarei a comunidade que se afine comigo? Onde estão aqueles com os quais devo realizar a tarefa que me cabe?
A entidade benevolente meditou alguns minutos e acentuou, sem qualquer sinal de reprimenda:
- Vinte e cinco anos de Espiritismo Evangélico, sem trabalho definido, é uma condição muito grave para a alma.
E modificando o tom de voz, observou:
- Benjamim, alguns passos além de seu lar, há um templo de caridade...
Paixão interceptou-lhe a palavra e clamou:
- Já sei. É um posto avançado de personalismo em dissidências constantes. Entre os que ali ensinam e aprendem, não se sabe qual o pior.
O guia refletiu, por alguns instantes, e obtemperou:
- Dentre seus amigos você tem o Pereira, que vem trabalhando com valor, a benefício de um orfanato...
O interlocutor aparteou, irreverente:
- Ah! O Pereira! Nunca vi homem mais agarrado ao dinheiro. É avarento, sórdido.
Melásio não se deu por aborrecido e aventou:
- Não sei se já entrou em contato com os serviços de Dona Soledade, a estimada médium da pobreza. Reside justamente no caminho da sua repartição...
Benjamim fixou um gesto de enfado e desabafou:
- Dona Soledade mata a paciência de qualquer um. É mulher despótica e arbitrária. Não posso entender sua referência.
O benfeitor silenciou, por momentos, e voltou a dizer:
- O irmão Carvalho, seu vizinho, organizou interessantes atividades de cura para obsidiados. Quem sabe...
Paixão, contudo, alegou, irônico:
- O Carvalho é um homem de moral duvidosa. È mesmo incrível que não se saiba, na sua vida espiritual, que ele possui mais de uma família.
O guia, porém, considerou com a mesma calma:
- A senhora Silva, não longe de sua residência, vem protegendo os velhos de um asilo e...
- Aquela dama é um poço de vaidade – atalhou Benjamim, intempestivo -, entrincheirou-se dentro do próprio “eu” e não aceita a cooperação de ninguém.
O tolerante amigo ponderou então:
- Em seu trabalho você conhece o Ladeira, que mantém valioso culto doméstico do Evangelho, junto ao qual muitos doentes encontram alívio...
- O Ladeira? – gritou Paixão, sarcástico. – Aquilo é a petulância em pessoa. Absorveu o Espiritismo todo. A Doutrina é ele só.
Com invejável bondade, o condutor da reunião interrogou cristãmente:
- Conhece você as sessões do Soares, em seu bairro?
- Há muito tempo – redargüiu, azedamente, o descortês visitante. – Soares é um espertalhão. Quando os guias da casa não aparecem, dispõe-se a substituí-los, sem qualquer escrúpulo. Vive de infindáveis trapaças, morando num palácio, à custa da ingenuidade alheia.
Nesse ponto do diálogo, Melásio entrou em profundo silêncio, e, não se acreditando vencido na argumentação, Benjamim voltou a pedir em voz enternecedora:
- Dedicado amigo, ajude-me! Preciso trabalhar e progredir na obra da verdade e do bem. Não me negue as diretrizes necessárias!...
O benfeitor, contudo, embora se mostrasse sorridente, respondeu, com inflexão de energia:
- Paixão, ofereci a você sete sugestões de trabalho que foram recusadas.
Segundo os ensinamentos de que dispomos, o remédio se destina ao doente e o socorro àqueles que o reclamam pela posição de ignorância ou sofrimento.
O Espiritismo solicita o reforço e o concurso dos homens de boa vontade e de entendimento fraternal que se amparem uns aos outros; entretanto, ao que me parece, você é o companheiro dos anjos e os anjos, meu amigo, estão muito distanciados de nós.
É provável possamos colaborar no roteiro de ação para o seu Espírito, contudo, é mais razoável que você nos procure quando tiver duas asas.
Chico Xavier / Irmão X - Do Livro “Contos e Apólogos
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Muita proteção e luz a todos!!!
Seja um Bom Médium.
Grande abraço,
"EU SOU O EU SOU" Namastê 21/11/05 SOL777
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