A TRISTEZA DOS ORIXÁS por Reinaldo Mariano de Brito - reisol777@yahoo.com.br
Foi,
não há muito tempo atrás, que essa história aconteceu. Contada aqui de uma
forma romanceada, mas que trás em sua essência, uma verdadeira mensagem
para os umbandistas. ..
Ela começa em uma noite escura e
assustadora, daquelas de arrepiar os pelos do corpo. Realmente o Sol tinha
escondido - se nesse dia, e a Lua, tímida, teimava em não iluminar com
seus encantadores raios, brilhosos como fios de prata, a morada dos
Orixás. Nessa estranha noite, Ogum, o Orixá das "guerras", saiu do alto
ponto onde guarda todos os caminhos e dirigiu - se ao mar. Lá chegando, as
sereias começaram a cantar e os seres aquáticos agitaram - se. Todos
adoravam Ogum, ele era tão forte e corajoso. Iemanjá que tem nele um filho
querido, logo abriu um sorriso, aqueles de mãe "coruja" quando revê um
filho que há tempos partiu de sua casa, mas nunca de sua eterna morada
dentro do coração:_ _Ah Ogum, que saudade, já faz tanto tempo! Você
podia vir visitar mais vezes sua mãe, não é mesmo? _ ralhou Iemanjá, com
aquele tom típico de contrariedade.
_Desculpe, sabe, ando meio
ocupado_ Respondeu um triste Ogum._Mas, o que aconteceu? Sinto que estás
triste._É, vim até aqui para "desabafar" com você "mãezinha". Estou
cansado! Estou cansado de muitas coisas que os encarnados fazem em meu
nome. Estou cansado com o que eles fazem com a " espada da Lei" que julgam
carregar. Estou cansado de tanta demanda. Estou muito mais cansado das
"supostas" demandas, que apenas existem dentro do íntimo de cada um
deles...Estou cansado... Ogum retirou seu elmo, e por de trás de seu
bonito capacete, um rosto belo e de traços fortes pôde ser visto. Ele
chorava. Chorava uma dor que carregava há tempos. Chorava por ser tão mal
compreendido pelos filhos de Umbanda. Chorava por ninguém entender, que se
ele era daquele jeito, protetor e austero, era porque em seu peito a chama
da compaixão brilhava. E, se existe um Orixá leal, fiel e companheiro,
esse Orixá é Ogum. Ele daria a própria Vida, por cada pessoa da
humanidade, não apenas pelos filhos de fé. Não! Ogum amava a humanidade,
amava a Vida. Mas infelizmente suas atribuições não eram realmente
entendidas. As pessoas não viam em sua espada, a força que corta as trevas
do ego, e logo a transformavam em um instrumento de guerra. Não vinham
nele a potência e a força de vencer os abismos profundos, que criam
verdadeiros vales de trevas na alma de todos. Não vinham em sua lança, a
direção que aponta para o autoconhecimento, para iluminação interna e
eterna. Não! Infelizmente ele era entendido como o "Orixá da Guerra", um
homem impiedoso que utiliza - se de sua espada para resolver qualquer
situação.
E logo, inspirados por isso,lá iam os filhos de fé
esquecer dos trabalhos de assistência a espíritos sofredores, a almas
perdidas entre mundos, aos trabalhos de cura, esqueciam do amor e da
compaixão, sentimentos básicos em qualquer trabalho espiritual, para
apenas realizaram "quebras e cortes" de demandas, muitas das quais nem
mesmo existem, ou quando existem, muitas vezes são apenas reflexos do
próprio estado de espírito de cada um. E mais, normalmente, tudo isso
torna - se uma guerra de vaidade, um show "pirotécnico" de forças ocultas.
Muita "espada", muito "tridente", muitas "armas", pouco coração,
pensamento elevado e crescimento espiritual. Isso magoava Ogum. Como
magoava:
_Ah, filhos de Umbanda, por que vocês esquecem que
Umbanda é pura e simplesmente amor e caridade? A minha espada sempre
protege o justo, o correto, aquele que trabalha pela luz, fiando seu
coração em Olorum. Por que esquecem que a Espada da Lei só pode ser
manuseada pela mão direita do amor, insistindo em empunhá-la com a mão
esquerda da soberba, do poder transitório, da ira, da ilusão,
transformando-a em apenas mais uma espada semeadora de tormentos e
destruição.
Então, Ogum começou a retirar sua armadura, que
representava a proteção e firmeza no caminho espiritual que esse Orixá
traz para nossa vida. E totalmente nu ficou frente à Iemanjá. Cravou sua
espada no solo. Não queria mais lutar, não daquele jeito. Estava
cansado... Logo um estrondo foi ouvido e o querido, mas também temido Tatá
Omulu apareceu. E por incrível que pareça o mesmo aconteceu. Ele não
agüentava mais ser visto como uma divindade da peste e da magia negativa.
Não entendia, como ele, o guardião da Vida podia ser invocado para atentar
contra Ela. Magoava - se por sua falange da morte, que é o princípio que a
tudo destrói, para que então a mudança e a renovação aconteçam, ser tão
temida e mal compreendida pelos homens. Ele também deixou sua alfange aos
pés de Iemanjá, e retirou seu manto escuro como a noite. Logo via - se
o mais lindo dos Orixás, aquele que usa uma cobertura para não cegar os
seus filhos com a imensa luz de amor e paz que irradia - se de todo seu
ser. A luz que cura, a luz que pacifica, aquela que recolhe todas as almas
que perderam - se na senda do Criador. Infelizmente os filhos de fé
esquecem disso...Mas o mais incrível estava por acontecer. Uma tempestade
começou a desabar aumentando ainda mais o aspecto incrível e tenebroso
daquela estranha noite. E todos os outros Orixás começaram a aparecer,
para logo, começarem também a despir suas vestimentas sagradas, além de
deixarem ao pé de Iemanjá suas armas e ferramentas simbólicas. Faziam isso
em respeito a Ogum e Omulu, dois Orixás muito mal compreendidos pelos
umbandistas. Faziam isso por si próprios. Iansã queria que as pessoas
entendessem que seus ventos sagrados são o sopro de Olorum, que espalha as
sementes de luz do seu amor. Oxossi queria ser reverenciado como aquele
que, com flechas douradas de conhecimento, rasga as trevas da ignorância.
Egunitá apagou seu fogo encantador, afinal, ninguém lembrava da chama que
intensifica a fé e a espiritualidade. Apenas daquele que devora e destrói.
Os vícios dos outros, é claro. Um a um, todos foram despindo - se
e pensando quanto os filhos de Umbanda compreendiam erroneamente os
Orixás. Iemanjá, totalmente surpresa e sem reação, não sabia o que fazer.
Foi quando uma irônica gargalhada cortou o ambiente. Era Exu. O
controvertido Orixá das encruzilhadas, o mensageiro, o guardião, também
chegava para a reunião, acompanhado de Pombagira, sua companheira eterna
de jornada. Mas os dois estavam muito diferentes de como normalmente
apresentam -se. Andavam curvados, como que segurando um grande peso nas
costas. Tinham na face, a expressão do cansaço. Mas, mesmo assim,
gargalhavam muito. Eles nunca perdiam o senso de humor!E os dois também
repetiram aquilo que todos os Orixás foram fazer na casa de Iemanjá.
Despiram - se de tudo. Exu e Pombagira, sem dúvida, eram os que mais
razões tinham de ali estarem. Inúmeros eram os absurdos cometidos por
encarnados em nome deles. Sem contar o preconceito, que o próprio
umbandista ajudou a criar, dentro da sociedade, associando - o a figura do
Diabo:_ Hahaha, lamentável essa situação, hahaha, lamentável! _ Exu
chorava, mas Exu continuava a sorrir. Essa era a natureza desse querido
Orixá. Iemanjá estava desesperada! Estavam todos lá, pedindo a ela um
conforto. Mas nem mesmo a encantadora Rainha do Mar sabia o que
fazer: Espere! _ pensou Iemanjá!_ Oxalá,Oxalá não está aqui! Ele com
certeza saberá como resolver essa situação.E logo Iemanjá colocou - se em
oração, pedindo a presença daquele que é o Rei entre os Orixás. Oxalá
apresentou - se na frente de todos. Trazia seu opaxorô, o cajado que
sustenta o mundo. Cravou ele na Terra, ao lado da espada de Ogum. Também
despiu - se de sua roupa sagrada, pra igualar - se a todos, e sua voz
ecoou pelos quatro cantos do Orun:
_ Olorum manda uma mensagem a
todos vocês meus irmãos queridos! Ele diz para que não desanimem, pois, se
poucos realmente os compreendem, aqueles que assim o fazem, não medem
esforços para disseminar essas verdades divinas. Fechem os olhos e vejam,
que mesmo com muita tolice e bobagem relacionada e feita em nossos nomes,
muita luz e amor também está sendo semeado, regado e colhido, por mãos de
sérios e puros trabalhadores nesse às vezes triste, mas abençoado planeta
Terra. Esses verdadeiros filhos de fé que lutam por uma Umbanda séria, sem
os absurdos que por aí acontecem. Esses que muito além de "apenas"
prestarem o socorro espiritual, plantam as sementes do amor dentro do
coração de milhares de pessoas. Esses que passam por cima das dificuldades
materiais, e das pressões espirituais, realizando um trabalho magnífico,
atendendo milhares na matéria, mas também, milhões no astral, construindo
verdadeiras "bases de luz" na crosta, onde a espiritualidade e
religiosidade verdadeira irão manifestar-se. Esses que realmente nos
compreendem e buscam – nos dentro do coração espiritual, pois é lá que o
verdadeiro Orun reside e existe. Esses incríveis filhos de umbanda, que
não colocam as responsabilidades da vida deles em nossas costas, mas sim,
entendem que tudo depende exclusivamente deles mesmos. Esses fantásticos
trabalhadores anônimos, soltos pelo Brasil, que honram e enchem a Umbanda
de alegria, fazendo a filhinha mais nova de Olorum brilhar e
sorrir...
Quando Oxalá calou - se os Orixás estavam mudados. Todos
eles tinham suas esperanças recuperadas, realmente viram que se poucos os
compreendiam, grande era o trabalho que estava sendo realizado, e talvez,
daqui algum tempo, muitos outros juntariam - se nesse ideal. E aquilo
alegrou - os tanto que todos começaram a assumir suas verdadeiras formas,
que são de luzes fulgurantes e indescritíveis. E lá, do plano celeste,
brilharam e derramaram - se em amor e compaixão pela humanidade.
Em Aruanda, os caboclos, pretos - velhos e crianças, o mesmo
fizeram. Largaram tudo, também despiram - se e manifestaram sua essência
de luz, sua humildade e sabedoria comungando a benção dos Orixás. Na
Terra, baianos, marinheiros, boiadeiros, ciganos e todos os povos de
Umbanda, sorriam. Aquelas luzes que vinham lá do alto os saudavam e
abençoavam seus abnegados e difíceis trabalhos. Uma alegria e
bem-aventurança incríveis invadiram seus corações. Largaram as armas.
Apenas sorriam e abraçavam - se. O alto os abençoava...
Mas, uma
ação dos Orixás nunca fica limitada, pois é divina, alcançando assim, a
tudo e a todos. E lá no baixo astral, aqueles guardiões e guardiãs da lei
nas trevas também foram alcançados pelas luzes Deles, os Senhores do Alto.
Largaram as armas, as capas, e lavaram suas sofridas almas com aquele
banho de luz. Lavaram seus corações, magoados por tanta tolice dita e
cometida em nome deles. Exus e Pombagiras, naquele dia foram tocados pelo
amor dos Orixás, e com certeza, aquilo daria força para mais muitos
milênios de lutas insaciáveis pela Luz. Miríades de espíritos foram
retirados do baixo - astral, e pela vibração dos Orixás puderam ser
encaminhados novamente à senda que leva ao Criador. E na matéria toda a
humanidade foi abençoada. Aos tolos que pensam que Orixás pertencem a uma
única religião ou a um povo e tradição, um alerta. Os Orixás amam a
humanidade inteira, e por todos olham carinhosamente. Aquela noite que
tinha tudo para ser uma das mais terríveis de todos os tempos, tornou - se
benção na vida de todos. Do alto ao embaixo, da esquerda até a direita, as
egrégoras de paz e luz deram as mãos e comungaram daquele presente
celeste, vindo diretamente do Orun, a morada celestial dos
Orixás.
Vocês, filhos de Umbanda, pensem bem! Não transformem a
Umbanda em um campo de guerra, onde os Orixás são vistos como "armas" para
vocês acertarem suas contas terrenas. Muito menos esqueçam do amor e
compaixão, chaves de acesso ao mistério de qualquer um deles. Umbanda é
simples, é puro sentimento, alegria e razão. Lembrem - se disso. E quanto
a todos aqueles, que lutam por uma Umbanda séria, esclarecida e
verdadeira, independente da linha seguida, lembrem - se das palavras de
Oxalá ditas linhas acima. Não desanimem com aqueles que vos criticam, não
fraquejem por aqueles que não tem olhos para ver o brilho da verdadeira
espiritualidade. Lembrem - se que vocês também inspiram e enchem os Orixás
de alegria e esperança. A todos, que lutam pela Umbanda nessa Terra de
Orixás, esse texto é dedicado. Honrem - los. Sejam luz, assim como Eles!
Exe ê o babá.
Autoria Espiritual: Vovó Maria Conga Local: Algum
terreiro do Bahia
Muita proteção e luz a todos!!!
Seja
um Bom Médium. Grande abraço, EU SOU O EU
SOU Namastê OMSG 20/01/08 SOL777
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