ADÃO & ATOMO (1)
por Vera Helena Tanze - vhct@uol.com.br

Ao falar sobre o mundo físico, é natural que os cientistas procurem respostas sobre como foi criado o mundo. Para os cabalistas a pergunta é por quê?
Nessa edição um físico e um cabalista trocam notas. Os físicos Dr. Michio Kaku e Fred Alan Wolf e o Cabalista Rav Berg discutem as diferenças, e sobretudo as similaridades entre a física e a Cabala. Toda manhã, o renomado teórico físico Dr. Michio Kaku acorda e se pergunta, "Como Deus criou o universo?"

Pode não ser um ritual matutino para a maioria de nós, mas todos fizemos esta pergunta em algum momento de nossas vidas. Para o Cabalista Rav Berg, descobrir nosso propósito e desvendar os mistérios da natureza não é saber como Deus criou o universo, mas sim de perguntar por quê. "Se soubermos por que estamos aqui, então saberemos as regras sobre como atingir o objetivo," diz Rav Berg. "Mas se não há objetivo, então cada um elaborará suas próprias regras, e ninguém tomará a iniciativa de questionar seu próprio objetivo."

O Dr. Kaku, que escreveu nove livros sobre como Deus criou o universo, incluindo dois best sellers internacionais, acredita que chegar um passo mais próximo de uma resposta é seu propósito na vida.
"Ao desvendar o mistério da criação," diz ele, "um poder semelhante ao de Deus seria depositado nas mãos dos seres humanos."
O que significaria possuir o poder de Deus? Significaria ter controle sobre o passado, o presente e o futuro, sobre o tempo e o espaço, para nós individualmente e para o universo em seu todo.

Da busca matemática do Dr. Kaku, e da pesquisa do cabalista sobre as verdades místicas das escrituras, à nossa tentativa de achar um emprego melhor para melhor cuidar de nossas famílias, estamos todos tentando descobrir como desvendar os segredos da natureza, a fim de viver melhor e, quem sabe, ajudar os outros nesse objetivo também. Essa busca logicamente não se limita à comunidade científica. Através da história, todas as religiões do mundo têm tentado responder à questão da criação, e prover um conjunto de orientações sobre como viver uma vida "boa" ou melhor. Tanto para os físicos quanto para o homem comum (não cientista), a descoberta deste significado é um objetivo compartilhado por todos.
A única linha divisória entre nós é o meio pelo qual perseguimos esta descoberta, e a linguagem que usamos para revelá-la. Os físicos usam a matemática para resolver os mistérios da natureza. Os religiosos usam as escrituras para prover técnicas de vida na natureza.
A similaridade entre as duas abordagens está no desejo de explicar como.
A religião tenta prover-nos com orientações sobre como viver (fé), enquanto a ciência tenta nos fornecer explicações para como as coisas funcionam e se relacionam (prova física). Podemos imaginar que combinando a informações dos dois campos, poderíamos obter um quadro bem abrangente, que endereçasse a função e o propósito inter-relacionado de tudo. Mas isso não é fato.

Tanto a ciência quanto a religião se apressam em não ser conclusivas quanto às respostas que buscamos. Para a pessoa comum, nem a ciência nem a religião têm sido capazes de melhorar a vida cotidiana ou fornecer um sentido de propósito. A razão para isso, de acordo com o cabalista, é que tanto a ciência quanto a religião organizada estão restritas ao mundo dos efeitos, porque estão fechadas na questão do como. Em outras palavras, perguntar como algo ocorre despreza totalmente a intenção por trás da ação, e nos força a ter meros clarões na escuridão para desvendar um efeito, em vez de considerar a causa.
Ao se focar na questão do por que, o cabalista lida com o pensamento precedendo a ação. Além da linguagem matemática e das escrituras estarem além da compreensão da maioria de nós, nenhuma das duas abordagens parece ter muita relevância no nosso mundo moderno. Buscamos uma sabedoria mais acessível, que nos permita visualizar essa coisa de vida-propósito. Nem a ciência, nem a religião nos fornecem uma sabedoria prática relativa aos assuntos do coração e da alma. A informação é inútil sem a compreensão.
Em outras palavras, os efeitos não significam nada sem a compreensão da causa, as regras sempre podem vir a ser questionadas quando não há conhecimento da intenção do jogo; o como jamais será realmente compreendido sem uma tentativa de se vislumbrar o por que. "Os físicos são limitados, porque estudar relacionamentos de matéria física baseia-se na repetição de experimentos em um laboratório," menciona o Dr. Kaku. Logo, uma ocorrência inexplicável, como um milagre por exemplo, não pode ser comprovada ou isolada pelos cientistas, porque o evento não pode ser contido em um laboratório ou mesmo ser replicado. Porém, isto não significa que milagres não ocorram; significa somente que os físicos não conseguem fornecer uma explicação para eles porque a ciência restringiu-se à realidade física, ou ao mundo dos efeitos.
"Não se pode criticar os físicos pelo fato de se encontrarem limitados ao estudo da matéria física," argumenta Fred Alan Wolf, um físico teórico e escritor, ganhador de prêmio, que trabalhou para expandir as descobertas da física a uma discussão mais ampla de espiritualidade, filosofia e aplicação. "Isto seria como criticar um artista por usar pinturas a óleo”. A força da física é que nos fornece prova física. Sua fraqueza é que não nos fornece qualquer insight subjetivo. Este é um trabalho para o místico.

ENTRA EM CENA O CABALISTA
"Um cabalista pega as evidências de prova física da ciência, mais as doutrinas de estrutura de vida da religião, e empresta um significado a tudo isso”.Os insights da Cabala podem transformar meras informações em sabedoria e propósito. A Cabala pode explicar a matemática da física, assim como pode prover uma compreensão mais profunda, espiritual dos ensinamentos literais da religião, afirma o Rav Berg. Em outras palavras, a Cabala nos fornece as ferramentas para entender as linguagens tanto da ciência quanto da religião. Pense nisso em termos de música.
A Física nos fornece a pauta de música -- a "matemática" da melodia.
A Cabala nos dá não somente a pauta, mas também a melodia, a harmonia e a proficiência na técnica musical -- uma sinfonia inteira que não somente podemos compreender tecnicamente, mas também que nos move espiritual e emocionalmente. A intenção espiritual do compositor é transferida musicalmente para o ouvinte.

LIGANDO MATEMÁTICA & METÁFORA
Enxergar a distinção entre a aparência externa da matéria física e sua essência é a diferença fundamental na abordagem entre ciência e Cabala. A Ciência pergunta como algo existe dentro das dimensões de tempo, espaço, movimento e causalidade; a Cabala pergunta por que as coisas existem. As duas modalidades de pensamento, embora provenientes de pontos de partida diferentes, geralmente acrescentam uma à outra. "O 'como' jamais provará o 'por que,'" diz o Dr. Wolf, "porque o 'como' lida com um sistema de mapeamento, enquanto o 'por que' lida com a experiência real”. No entanto, eles podem funcionar no sentido de se complementarem um ao outro." A Cabala utiliza metáfora e história, enquanto a física usa a matemática -- juntas, elas trabalham para desenhar o quadro dos mistérios de fenômenos tais como o big bang, os universos paralelos, a teoria da relatividade e a teoria das cordas. Se olharmos as descobertas científicas através da história, poderemos verificar que, embora a investigação do mundo dos efeitos tenha se aprofundado, ainda lhe falta uma estrutura de causalidade.

"Foi a física Newtoniana que então se tornou a de Einstein," explica o Rav Berg. "Ambos os domínios são, na realidade, a mesma coisa”. Apenas um teve uma abordagem mais profunda, instando-nos a descobrir algo que não víamos antes. Tudo continua igual, apenas cientificamente mais avançado." As descobertas da física no século vinte podem ser basicamente resumidas em duas teorias: a teoria da gravidade de Einstein e a teoria do quantum. A primeira auxiliou na condução a uma descrição cósmica das coisas mais amplas (buracos negros e o big bang), enquanto a outra fornece uma descrição microscópica das menores (o microcosmo das partículas subatômicas). Elas nos forneceram a prova física e as equações matemáticas por detrás das metáforas da Cabala e para a história do universo.

Continua....ADÃO & ATOMO (2)

Escrito por Ajaenna E. Ziman

Fiquem em Paz.