ADÃO & ATOMO (2)
por Vera Helena Tanze - vhct@uol.com.br

A TEORIA DO BIG BANG

Podemos traçar intrigantes paralelos entre a explicação científica e a interpretação metafórica da Cabala sobre o big bang. A diferença entre os dois é que onde a física esbarra ao lidar com os três segundos após o momento da criação, a Cabala por outro lado lida com o pensamento que precede a ação. A Cabala endereça o nanosegundo antes da criação, identificando assim um propósito e uma intenção. A partir da teoria do big bang, a ciência postula o que ocorreu e como ocorreu. Então, pelos ensinamentos da Cabala, recebemos uma explicação de por que ocorreu -- uma explicação que dá sentido não somente à criação do universo, mas a tudo o que fazemos hoje. Existe uma ligação entre os eventos que ocorrem em nossa vida cotidiana e aquele episódio singular ocorrido há quinze bilhões de anos atrás.

De acordo com a Cabala, antes da criação havia Luz. A natureza da Luz era compartilhar e expandir-se infinitamente. (Compartilhar não é usado aqui como um verbo, mas sim como um substantivo. A Luz compartilha). A essência dessa Luz era de infinita inteligência e plenitude sem fim. Para que a Luz manifestasse sua natureza de compartilhar porém, ela precisava de um receptor -- então ela criou um receptor. A natureza receptiva desse receptor é o oposto polar da natureza de compartilhar da Luz.
De acordo com o cabalista Rabino Yehuda Ashlag, que viveu no início do século vinte, este fato representava um problema. Em seu livro Entrada para o Zohar, o cabalista explica que essa disparidade na natureza criou uma separação espiritual entre a Luz e o receptor. Os conceitos de distância e proximidade são baseados na similaridade de forma e natureza no domínio espiritual. Em outras palavras, quanto mais duas entidades se parecem uma com a outra, mais próximas estarão uma da outra; quanto maior sua diferença, tanto maior seu grau de separação. De acordo com a Cabala, há um método através do qual o receptor pode eliminar a separação. Considere uma chaleira com água fervente como sendo a Luz e um copo vazio como sendo um receptor. Quando a água fervente é vertida no copo, ele lentamente se torna quente ou assume os atributos da água fervente.

Similarmente, o receptor, uma vez criado, absorveu certos atributos da Luz. Em outras palavras, o receptor "possuía" o DNA da Luz, que é o desejo de compartilhar. Esse "gene" compartilhador é o segredo para se eliminar a separação entre a Luz e o receptor. No entanto, o receptor não sabia como compartilhar, porque sua inteligência dominante era receber. O gene se encontrava latente. Logo, a fim de dar um fim à separação entre a Luz e o receptor, o receptor teve que dar um primeiro passo inicial. O receptor parou de receber. Em resposta a isso, a Luz se restringiu e contraiu, criando um único ponto dentro de si própria. "O infinito deu nascimento ao finito," diz o Rav Berg. Foi o primeiro vácuo ou vazio a partir do qual a matéria se formou. De acordo com os escritos do Rabino Isaac Luria, que viveu no século dezesseis, o universo foi criado do nada a partir de um único ponto de Luz. O nada é chamado Mundo Sem Fim. O Mundo Sem Fim estava pleno de Luz infinita.

A Luz então restringiu-se a um único ponto, criando o espaço primordial. Não há informação além desse ponto. Logo, o ponto é chamado "o começo. " Após a contração, o Mundo Sem Fim emitiu um raio de Luz (energia)”. Esse raio de Luz expandiu-se então rapidamente. Toda matéria emanou daquele ponto.
Esse ponto (nosso universo) tornou-se a arena onde o receptor poderia ter a oportunidade de transformar sua natureza de receber em natureza de compartilhar. Essa transformação eventual iria gerar uma similaridade de natureza entre Luz e receptor, produzindo uma reunificação das duas. No entanto, nessa união, o receptor possuía a capacidade de receber toda a Luz -- mas desta vez, com o propósito de compartilhar com a Luz -- e nada proporciona maior alegria ao Criador do que dar prazer ao receptor.

O receptor é conhecido na Bíblia pela palavra em código "Adão. " O receptor possuía dois aspectos: uma carga elétrica positiva e outra negativa: um princípio masculino e outro feminino; Adão e Eva.” Após o momento em que a Luz se restringiu e se contraiu, os cabalistas nos dizem que o receptor partiu-se em dois pedaços e o princípio masculino separou-se do feminino. Essas duas partes então fragmentaram-se em números infinitos de outras partes e se transformaram nos prótons, elétrons e outras partículas que compõem o universo inteiro. A criação, de acordo com o Rabino Luria, foi o processo pelo qual a energia se transformou em uma forma física -- ou onde "Adão" se tornou "átomo."
Esta é certamente uma explicação extremamente simplificada da Cabala e sua cosmologia. Mesmo assim, esta é a teoria científica do big bang explicada por uma metáfora cabalística, que leva em consideração o pensamento que precede o evento, ou o momento anterior à criação. "Este é um caso em que os cientistas podem estar provando o que os místicos revelaram, não obstante através de meios diferentes," diz o Dr. Wolf. Os paralelos entre a explicação cabalística para a natureza dos mistérios e a explicação matemática da ciência não param aí.

A TEORIA DAS CORDAS
O problema enfrentado pelos físicos atuais é como integrar a mecânica do quantum e a teoria da gravidade de Einstein em uma teoria que possa finalmente unificar todas as leis físicas sob uma única estrutura. Einstein, que passou seus últimos trinta anos tentando criar essa estrutura, chamou-a de Teoria do Campo Unificado -- o objetivo máximo de toda a física, a teoria que poria fim a todas as outras teorias. A teoria das cordas é a tentativa atual de unificar essas duas teorias de forma coerente. No entanto, porque cada teoria utiliza princípios matemáticos e físicos diversos para descrever o universo, unificá-las representa o maior desafio enfrentado pelos físicos atualmente. Os paralelos entre a teoria das cordas e a explicação da Cabala para a construção multi-dimensional do universo são espantosas. Ou, como o Dr Kaku, um líder na proposição da teoria das cordas diz, "As similaridades são impressionantes."

A teoria das cordas ou supercordas postula que toda matéria e energia pode ser reduzida a minúsculas cordas de energia vibrando em um universo de dez dimensões. O Dr. Kaku, que escreveu o best-seller internacional Hyperspace (Hiperespaço), compara a teoria das cordas com as cordas de um violino. Ele diz que estudando as vibrações ou a harmonia que pode existir em uma corda de violino, pode-se calcular o infinito número de possibilidades de freqüências. Assim como uma nota corresponde às vibrações de uma corda de violino, uma partícula subatômica ou "quanta" corresponde a diferentes freqüências nas supercordas. Em outras palavras, as "notas" das supercordas são as partículas subatômicas, as "harmonias" das supercordas são as leis da física, e o "universo" pode ser comparado a uma sinfonia de supercordas vibrantes.
Um curioso aspecto das supercordas é que elas podem vibrar somente em dez dimensões, não quatro, porque "mais espaço" é necessário para acomodar tanto a teoria da gravidade de Einstein quanto a física subatômica. "Para os que a aceitam, esta predição de que o universo começou originalmente em dez dimensões introduz nova e surpreendente realidade matemática, de tirar o fôlego no mundo da física," afirma o Dr. Kaku. "Para seus críticos, ela beira a ficção científica." Para nós, que não somos familiarizados com a física, tudo isso pode significar muito pouco. No entanto, de acordo com a Cabala, quando a Luz se contraiu e criou o espaço primordial, ele foi criado em dez dimensões.

DEZ GRAUS DE SEPARAÇÃO
"O fato desses físicos estarem aventando a possibilidade das dez dimensões significa que eles estão chegando perto da verdade," explica o Rav Berg”. "Sem mencionar que estamos aguardando que a ciência confirme o que já sabemos através da Cabala”. No entanto, parece que as pessoas se tornam mais convencidas quando sai da boca de um físico do que de um cabalista." O funcionamento dessas dez dimensões compreende um sistema bastante complexo sobre o qual não elaboraremos aqui. Em um nível básico, porém, pense em cada dimensão como uma cortina, todas enfileiradas uma após outra no espaço entre a Luz e o mundo físico onde vivemos. Cada cortina sucessiva gradualmente ofusca o brilho da Luz, de forma que a cortina mais distante quase não deixa passar qualquer Luz. O único resquício de Luz remanescente neste universo obscurecido é a "luz piloto" que sustenta nossa existência.

Essa luz piloto é tanto a força da vida de um ser humano, quanto a força que permite o nascimento das estrelas, sustenta o sol e coloca todas as coisas em movimento. Esta é a estrutura e o sistema que a Cabala usa para descrever o processo pelo qual a energia unificada do Ein-Sof (ou Mundo Infinito, Sem Fim) é diversificada e transmitida do mundo superior para os níveis mais abaixo -- como a energia se "densifica" em matéria. O propósito desse sistema de filtragem, de acordo com a Cabala, foi construir um cenário onde não houvesse nem Luz nem ordem. Aqui poderíamos -- através de nossos próprios esforços de compartilhar e de escolher o "bem" em vez do "mal" -- criar nossa própria Luz espiritual e alcançar a plenitude. Ao fazer isso, poderíamos evoluir e trabalhar em direção ao nosso caminho de volta para a Luz. Ao aprender como transformar nossa natureza adquirindo assim atributos similares aos do Criador, despertamos o "gene" do Criador em nós, e nos aproximamos do atingimento do nosso verdadeiro propósito de vida. Essa estrutura de dez dimensões do universo é a Árvore da Vida da Cabala. A Árvore da Vida é formada por dez Sefirot, emanações, ou contextualmente, receptores. Tudo o que se manifesta no universo contém as dez Sefirot: dez dedos das mãos, dez dedos dos pés, a matemática decimal -- todos são reflexos dessa estrutura.

Os paralelos entre a estrutura da Árvore da Vida da Cabala e a teoria das cordas prosseguem desse ponto em diante. De acordo com a teoria das cordas, o universo originalmente começou como um universo perfeito de dez dimensões, sem conter coisa alguma. No entanto, esse universo de dez dimensões não era estável. As dez dimensões originais "racharam-se" em dois pedações (pense em Adão separando-se de Eva: um universo de quatro e seis dimensões). Logo após o instante da criação, seis das dez dimensões se "enroscaram" em uma bola muito minúscula para ser observada. O universo restante de quatro dimensões inflou em uma proporção enorme, tornando-se eventualmente o big bang. Em princípio, isso também explica porque não podemos medir o universo de seis dimensões; ele encolheu a um tamanho menor do que um átomo. De acordo com a Cabala, os seis dias da criação descritos na Bíblia são um código.

O cabalista Rabino Moses Ben Nachman que viveu no século doze, explicou que os seis dias da criação na verdade se referem às seis das dez dimensões da Árvore da Vida, que se contraíram e se unificaram em uma dimensão. As quatro dimensões restantes se tornaram o nosso mundo físico, conhecido como Malchut, que é feito de três dimensões espaciais, mais uma quarta dimensão temporal. As seis dimensões são os domínios superiores da Árvore da Vida. Essas seis Sefirot - Chesed, Guevurá, Tiferet, Netzach, Hod e Yesod - formam um grupo de energias cósmicas referenciadas coletivamente como Zeir Anpin. Zeir Anpin e Malchut são os canais de energia pelos quais o universo tornou-se fisicamente expresso. As outras três Sefirot são o meio pelo qual a Luz foi trazida a esse mundo. São chamadas Keter, Chochmá e Biná. Elas não afetam nosso mundo físico além de direcionar-lhe a Luz. Essas três superiores são a fonte dos nossos pensamentos, intelecto, imaginação, plenitude e prazer. Quando um físico grita "Eureca", aquele flash repentino de insight que propiciou a resposta origina-se dessas três Sefirot superiores.

Similar à explicação na teoria das cordas de que as seis dimensões enroscaram-se em uma bola tão minúscula a ponto de não poder ser observada pelos humanos, a Cabala também explica que nossa existência em Malchut, ou o domínio físico, nos impede de acessar as outras dimensões com os nossos cinco sentidos. Somente através da evolução espiritual -- o processo de receber para compartilhar, pelo qual nossa natureza assume um maior grau de similaridade com a Luz -- é que Malchut se eleva para tornar-se mais próxima às dimensões superiores seguintes. O Dr. Kaku admite que as similaridades entre a Cabala e a teoria das cordas são intrigantes. "É impressionante como os 'números mágicos' da física são encontrados na Cabala." Potencialmente, uma outra ponte entre religião e ciência pode ter sido estabelecida com o fato de se admitir que existem mais do que quatro dimensões. Além disso, a idéia de que os físicos estão admitindo dimensões que os sentidos humanos não podem perceber, combina com a noção mística de que a realidade física é ilusória de várias formas.

"Se você está aceitando o princípio de que a fisicalidade é uma ilusão e um simples sinal na tela da realidade," diz o Rav Berg, "então você está não somente dando crédito mas também reconhecendo algo que não existe." "Essa tendência do pensamento científico não somente continuará a validar o que já é de conhecimento da Cabala, mas também poderá abrir as mentes das pessoas no sentido de compreender estados de consciência mais elevados”.

Na verdade, a explicação cabalística da estrutura de dez dimensões nos ajuda a melhor entender a intenção por detrás do nosso mundo de efeitos, e conhecer nosso objetivo na vida".

Continua....ADÃO & ATOMO (3)

Escrito por Ajaenna E. Ziman


Fiquem em Paz.